Um caso complicado – Peter Bullet

Por Kleber Boelter, 13 de janeiro de 2010 18:02

Interrogado sob tortura, como convém ao gênero, o autor acabou confessando.

Segundo seu relato, este livro foi gerado por uma cópula pouco convencional, mas nem por isso incomum.

De um lado, o fascínio pelos romances policiais, tanto os clássicos noir de Dashiell Hammet e Raymond Chandler quanto os contemporâneos textos de Elmore Leonard e John Dunning, com seu fantástico detetive colecionador de livros raros Cliff Janeway. Do outro, a compulsão por ler e, principalmente, escrever.

Concluindo que já havia devorado quase tudo o que de importante existia na literatura policial que contivesse os ingredientes básicos dos clássicos, e sem ter saciado a vontade de continuar a lê-los, o autor partiu para uma solução radical: escreveu ele mesmo um romance com as características que aprendeu a apreciar. Claro que achar que já havia esgotado essa intensa fonte que são os romances policiais foi um exagero. Ou talvez tenha sido apenas uma desculpa para partir para a ação.

Assim nasceu Peter Bullet, um detetive particular que já foi membro da CIA, do FBI e da Polícia de Nova Iorque, nessa decadente ordem. E que, por isso, não tem nenhuma ilusão de que os organismos oficiais consigam promover aquilo que as pessoas chamam de justiça. A indústria de Hollywood pode pintar um quadro diferente, onde no final os bons vencem os maus, mas a verdade é muito diferente. E Peter nos prova isso.

Como um clássico detetive, ele vive em Nova Iorque, tem um escritório onde atende belas loiras platinadas ou lindas morenas melífluas, é durão com os bandidos e consegue manter-se vivo seguindo o lema de vida de seu amigo Joe “Gun” Elroy, que garante que todo mundo está tentando matá-lo o tempo todo.

Apesar de flertar em metalinguagem com os elementos básicos da literatura policial clássica, que os críticos classificam de clichês mas dos quais os aficionados não abrem mão, Um caso complicado não é uma paródia. É, antes, um romance sério e denso, que se ambienta em um mundo multifacetado, dividido em vários níveis que correm paralelos. Um, o macrocosmos das corporações transnacionais do setor farmacêutico, suas estratégias e sua ganância. O outro, o cotidiano de seus executivos e ex-funcionários, que vivem sob pressão, roubam segredos e são tão gananciosos quanto as empresas para os quais trabalham.

Abaixo deles, corre o submundo dos assassinos de aluguel, dos traficantes de drogas, da pornografia sadomasoquista, dos hackers e de todos os bandidos que fazem os dois mundos da superfície se cruzarem perigosamente, alimentados pela ganância de todos e de sua própria.

Um romance ágil e inquietante, que revela facetas obscenas de nossa realidade.

Quem viver, verá.

Com o perdão do clichê.

O autor.

Preço: R$ 35,00. 360 páginas.

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