Um pouco de emoção

Ele tem vários nomes: alinhamento dos astros, proteção divina, pensamento positivo, anjo da guarda, sorte. Uns dizem que, quando se fecha uma porta, abre-se uma janela. Outros afirmam que há males que vem para o bem. São acontecimentos que, num primeiro momento, parecem um infortúnio, um erro, um golpe de azar mas que, mais adiante, acabam se revelando um lance de sorte.

Foi assim: eu tinha uma Harley Davidson e, como muitos motoqueiros que andam de custom pelas estradas brasileiras, estava me sentindo desconfortável. Buracos, desníveis de pista, ondulações, cabeceiras de ponte, lombadas em toda entrada de cidade. E, como se não bastassem as armadilhas das rodovias, ainda havia as da cidade: valetas, paralelepípedos irregulares, tampas de bueiro que parecem verdadeiros poços sem fundo, buracos de todos os tamanhos e formatos. Meus amigos começaram a mudar para as bigtrails, motos para uso em todo terreno cujo projeto, principalmente da suspensão, permite enfrentar esses perigos com mais segurança. Ano passado resolvi fazer uma experiência e comprei uma XT600 antiga. Aprovadíssima! De repente, não só os defeitos do asfalto mas também qualquer terreno de terra, areia, pedra ou lama viraram diversão. E me convenci de que esse era o caminho.

Mas a XT tem um defeito: é uma moto monocilíndrica e, na estrada, a partir dos 110 km/h, ela começa a vibrar. E os longos trajetos em velocidade elevada se tornam por demais cansativos. A alternativa era buscar uma moto não só mais potente mas, principalmente, mais confortável para longas viagens. O ideal seria uma bicilíndrica para todo terreno, com um preço razoável, categoria na qual se encaixavam a Honda XL 700V Transalp, a Suzuki V-Strom 650 e, num patamar acima (de potência, tecnologia e, claro, preço) a BMW F800GS. Feitos os cálculos de custo x benefício, decidi pela moto da Honda, uma clássica famosa em toda a Europa e líder de vendas no Brasil no seu segmento.

A partir daí passei a consultar com frequência os principais sites de vendas de moto: motos.com.br, webmotors.com.br e pensecarros.com.br. Considerando a questão custo x benefício, eu tinha alguns parâmetros em mente: ano 2011 ou superior, baixa quilometragem (menos de 10.000 km), freios ABS e, de preferência, na cor branca, que me parecia destacar mais a moto já que ela não tem um porte muito imponente. O problema é que não encontrava nenhuma opção com essas características em Porto Alegre e nem mesmo no Rio Grande do Sul. Depois de muito garimpar, eu chegara a duas opções: uma moto semi-nova, com apenas 1.500 km, numa Concessionária Honda de Juiz de Fora, próximo do Rio de Janeiro, e uma com 13.000 km em Mafra, um pouco antes de Curitiba, numa loja chamada Flaviano Multimarcas.

Aproximava-se o final de agosto e havia um evento em Limeira, São Paulo, no qual eu pretendia ir. Era o aniversário dos Sombreros, motogrupo ao qual pertencem vários amigos. E, então, surgiu a ideia: combino com o vendedor, vou até lá de avião, compro a moto e toco até Limeira. Maluquice pensada, maluquice alimentada. Aquilo ficou me martelando a cabeça enquanto eu consultava mapas, passagens de avião e de ônibus, distâncias, datas e prazos.

Apertei a negociação e não consegui baixar de R$ 26.000 a moto de Juiz de Fora. Mas o pessoal de Mafra chegou a R$ 24.500 e acrescentou uma vantagem importante: eles levariam a moto numa camionete da empresa até Florianópolis onde poderíamos fechar negócio. Já para chegar em Juis de Fora eu teria que embarcar num voo para o Rio de Janeiro e lá pegar um ônibus para percorrer quase duzentos quilômetros.  Apesar da diferença de quilometragem, e após receber garantias da Flaviano de que eles eram altamente confiáveis, a mais importante loja de Mafra e que não havia com o que me preocupar, respirei fundo e bati martelo: vamos nessa. Comprei uma passagem pela Avianca para Florianópolis saindo de Porto Alegre na quinta-feira, 28 de agosto, às 5:50 da manhã. Acordei às quatro da madrugada e desembarquei em Floripa antes das sete. Peguei um ônibus do aeroporto até o centro da ilha e do centro até São José, no continente, onde eu havia combinado encontrar os vendedores no Detran de Kobrassol. Meu plano era fazer uma vistoria prévia que o Detran realiza para conferir documentação, número de motor e chassi e outros itens. Às oito e meia encontrei os vendedores e tive a primeira decepção: a moto, ao vivo, parecia mais judiada do que pelas fotos da internet. Inclusive o pneu dianteiro apresentava um desgaste estranho. Em seguida, outro problema: eu sabia que a moto estava com o IPVA atrasado e tinha duas multas pois havia consultado o site do Detran antes de viajar. Mas concordei em mandar um sinal para a loja para eles colocarem os documentos em dia e para dar uma garantia para eles se deslocarem de Mafra até Florianópolis. Reclamei para o vendedor (que não era o dono da loja, Flaviano Ramos, com quem eu havia combinado) e ele disse que o Flaviano havia instruído para descontar o valor atrasado da transferência de dinheiro que eu deveria fazer para pagar o resto da moto. Ou seja, a ideia deles era me largar em Florianópolis, a 500km de casa, com uma moto com a documentação irregular. Disse para o vendedor que isto não me servia e ele sugeriu que fossemos ao banco e fizéssemos o pagamento. “E como pego o documento da moto regularizado para viajar?”, perguntei. Ele disse que não precisava: eu poderia viajar com o recibo de pagamento do banco, sem problemas. A essas alturas, eu já estava com os dois pés atrás. Argumentei que eu havia combinado que eles pagariam os atrasados e que havia inclusive mandado dinheiro para isso. E não iria para a estrada com a documentação irregular. Então eles passaram a cogitar em voltar para Mafra, pegar o documento e retornar para Florianópolis (detalhe que Mafra fica a 200 km de Floripa e ir e voltar representaria mais de seis horas de viagem).

No meu plano de ir a Limeira, eu tinha programado passar por Itapema e almoçar com meu amigo Rudy da Lista Shadow. Então propus o seguinte: o tal de Flaviano pagaria o IPVA e as multas atrasadas, emitiria o licenciamento em Mafra e mandaria alguém levar até Itapema. Enquanto isso, eu iria almoçar com meu amigo Rudy e tentaria esfriar a cabeça. Proposta aceita, embarcamos na van e partimos para Itapema. No caminho, comentando sobre nossas experiências e falando mal de patrões que faziam as coisas pela metade, um dos vendedores comentou que a Transalp que vinha junto na caçamba só tinha ABS traseiro. Ri do desconhecimento dele e tentei explicar que isso não existia, discorrendo sobre os fundamentos do sistema ABS. Mas aquilo acendeu outra luz de aviso. No que chegamos em Itapema, pedi para eles abrirem a caçamba e fui dar uma olhada mais detalhada no moto. Olhei a roda traseira e achei o sensor de ABS. Mais tranquilo, fui procurar o sensor na roda dianteira: não encontrei. Olhei em toda a carenagem da moto procurando alguma marca que dissesse “ABS” e nada. Pedi para eles a Nota Fiscal original, que eles haviam levado, e não havia nenhuma menção a esse sistema de freios. Enquanto isso eles juravam que a moto tinha ABS, claro, imagina. Eu nunca tivera uma moto com ABS, não conhecia a Transalp e não tinha certeza. Desci da van, fui até a loja do Rudy, cumprimentei o amigo, combinei almoçarmos juntos e acabei colocando minha dúvida. Então ele sugeriu que levássemos a moto até uma Concessionária Honda que ficava a poucas quadras de distância. E lá descobri o que já deveria ter aprendido antes: o que me parecia um sensor traseiro de ABS era, na verdade, um sensor de velocidade (igual ao ABS). Que, se a moto tivesse ABS, ela deveria ter necessariamente um sensor dianteiro e uma pinça de freio com três pistões. Que na bengala, próximo ao conjunto de freio, estava escrito ABS (se bem que muito discreto). Que a Nota Fiscal teria, com toda a certeza, a menção de freio ABS (e descobri depois que o modelo da moto sem ABS é XL 700 V e com ABS XL 700 VA). E que no painel, ao se girar a chave, aparecia uma luz vermelha de controle do ABS que permanecia acesa até a moto atingir 10 km/h, que era quando o sistema entrava em funcionamento.

Resumindo: a moto que fora anunciada como tendo ABS, com preço de ABS, com afirmações juramentadas do vendedor de que tinha ABS, na verdade era sem ABS.

Então respirei fundo, contei até dez e tive que segurar a raiva, enquanto o sangue fervia. Minha vontade era de esmurrar o vendedor, chutar a moto, bater com a cabeça na porta da van por ter sido crédulo (a palavra que me veio na cabeça, na verdade, era estúpido). Sei que muitas pessoas vivem sob o princípio de que o mundo é mau, que todos são sacanas, que não é possível confiar em ninguém (nem no espelho) e que é preciso desconfiar e conferir tudo, sempre. Eu não sou assim. Por princípio, confio nas pessoas (não de forma exagerada, confesso). Concedo o benefício da dúvida. Considero um filho da puta um filho da puta apenas depois que ele demonstra ser um e não antes. Me ajuda a viver melhor a crença de que as pessoas, na maioria, são gente boa. E por isso evito me relacionar com qualquer indivíduo de caráter duvidoso. Mas desta vez eles quase me pegaram.

A essa altura do campeonato fiz a única coisa que eu poderia fazer nas circunstâncias: mandei os caras enfiarem a moto no rabo e fui pra loja do Rudy jogar sal nas feridas. Gentilmente ele me emprestou o computador e já comecei a olhar passagens de volta para Porto Alegre, enquanto me lamentava e pensava na enrascada em que me metera. E confirmei outra suspeita: uma passagem aérea para Florianópolis, comprada com alguns dias de antecedência, custa algo entre R$ 100 e R$ 150. Comprada no dia, não sai por menos de R$ 350,00. Mas agora eu já estava na fase de amargar os prejuízos da indiada. Não tenho mais colo da mamãe (ela já partiu), mas o colo da Lika, minha cama quente e minha geladeira cheia de Polar me pareciam o único consolo nesta hora. Mas resolvi não tomar nenhuma decisão de cabeça quente. Primeiro iria almoçar e conversar um pouco com meu amigo. Antes, cheguei a cogitar novamente a alternativa de Juiz de Fora (chegando à conclusão de que, em cima da hora, era outra estupidez) e dei mais uma procurada nos sites de vendas de motos.

Por incrível que pareça, era meio-dia de quinta-feira. Tudo isso havia acontecido apenas em uma manhã, desde que acordara às quatro da madrugada, em Porto Alegre. Saímos para almoçar e o Rudy me levou a um ótimo restaurante, com uma vista deslumbrante para o mar. Comemos uma anchova assada espetacular, falamos das coisas boas da vida (incluindo elogios para nossas esposas) e me senti melhor. Ter um amigo por perto nessa hora foi uma espécie de dádiva.

De volta à loja do Rudy, uma notícia interessante: a filha dele que trabalha na loja, a Luana, dera uma olhada nuns sites diferentes enquanto nós almoçávamos e achou na OLX uma Transalp com ABS e apenas 3.800 km em Rio do Sul, uma cidade há 170 km de Itapema no rumo oeste. Pensei, balancei a cabeça, lembrei das minhas Polar mas resolvi ligar para o proprietário, meio ressabiado. Me atendeu um cara que pareceu gente fina: advogado, único proprietário, e disse que estava vendendo a moto porque andava pouco e havia acabado de comprar uma BMW (um carro e não uma moto) e chegara à conclusão de que era melhor fazer um pouco de dinheiro. Agradeci, desliguei o telefone e resolvi dar uma longa caminhada. Saí em direção à praia, comprei uma cerveja no primeiro mercadinho que achei e gastei sola de tênis por mais de uma hora. Traído, cansado, decepcionado, meio perdido a quase seiscentos quilômetros longe de casa. Mais alguns passos, goles de cerveja, oceano de um lado, prédios de outro, céu ensolarado, cerveja descendo redondo, a boa lembrança de que eu estava vivo, com saúde, amigos, uma mulher maravilhosa, uma filha adorável, uma boa casa para morar, livros publicados, palestras em escolas, algum dinheiro no banco, o sonho de comprar uma moto nova. Mas que barbaridade, tchê! Te arremanga e enfrenta o bicho!

De volta na loja do Rudy consultei a internet e vi que não tinha ônibus direto de Itapema para Rio do Sul. Eu teria que ir até Blumenau, que era bem o meio do caminho, e de lá pegar outro ônibus. Tempo estimado para chegar em Rio do Sul: cinco horas. O Rudy deu uma sugestão: “Pergunta se ele não leva a moto até Blumenau”. Liguei para o sujeito, cujo nome era Jaison, e fiz a proposta. Ele disse que até levaria mas não tinha como voltar para Rio do Sul depois. Então falou: “Te pego em Blumenau e viemos ver a moto”. Fechei. Fui até uma loja da Catarinense perto do centro e comprei uma passagem para Blumenau, saindo de Itapema no outro dia, às 7 da manhã.

Então fomos para a casa do Rudy, tomei um banho bem quente, e finalmente relaxei naquele dia maluco. Estava reunida toda a família dele – a esposa, a filha e o marido, o filho Lucas. Pediram pizza e me mostraram um armário cheio de ótimos vinhos. Escolhi um Carmenère chileno, sentei e curti com gosto aquele clima afetuoso de família unida, gente maravilhosa, conversa ótima, uma gostosa sensação de paz e amizade.

Me doeu um pouco o coração ver o Rudy aparecer às seis e meia da manhã, meio sonolento, deixando para trás a cama quente e os braços da esposa, para me levar até a rodoviária. Mas era hora de partir. Eu definitivamente já tinha abusado da sua hospitalidade e estava na hora de cair fora. Embarquei no ônibus verde da empresa Catarinense às sete e dez e, duas horas depois, desci em Blumenau. Tomei um café, encontrei o novo vendedor, o advogado Jaison, embarquei na BMW dele e partimos para Rio do Sul, a 97 quilômetros de distância, direto para a concessionária Honda aonde estava a Transalp.

Fim da procura: moto zerada, apenas 3800 quilômetros, sem detalhes. Aí começou outra novela, a da aquisição (ver documentação, ir a cartório, ir ao banco fazer a transferência de valores, quitar um financiamento que a moto tinha junto à concessionária, etc, etc). Mas estas foram tarefas feitas com outro espírito. Ás quatro da tarde, finalmente amarrei minha mochila da moto, coloquei o capacete e fui para a estrada. Agora, era só alegria!

Obviamente que, a essa altura, a ida para Limeira estava inviabilizada. Me restou abrir o mapa e ver como eu poderia me divertir um pouco na volta para casa. Vi que, se eu saísse para oeste para retornar por Erechim e Passo Fundo, eu passaria pelas águas termais de Piratuba. A ideia de tomar um banho de águas termais me agradou. E eu ainda poderia pegar uns trinta quilômetros de estrada de terra e cruzar a ponte rodoferroviária em Marcelino Ramos, famosa pelo seu péssimo estado de conservação. http://www.youtube.com/watch?v=kDPMAzdhkJU

Como eu não queria viajar à noite, decidi pousar na simpática cidade de Campos Novos. Foi uma grata surpresa. Campos Novos tinha tudo aquilo que as agradáveis cidades pequenas do interior têm: uma bela praça, de um lado a igreja, do outro um hotel, restaurantezinho simpático e cerveja a preço razoável. E, nestes tempos modernos, até wifi no modesto quarto de hotel, através do qual pude falar por skype com minha amada que, aliás, estaria de aniversário no dia seguinte, 31 de agosto.

No sábado, saí de Campos Novos às dez da manhã e pude testar o potencial da Transalp XL 700 VA para a estrada e fora-de-estrada. Aprovei. Boa tocada, chegando a 130 km/h às 5.000 RPM, ainda bem longe do início da faixa vermelha que fica nas 8.000 RPM. Apesar de sentir falta de uma sexta marcha (procurei ela várias vezes até me convencer de que ela não existia), o motor é silencioso e praticamente sem vibração, permitindo manter um ritmo de viagem na casa dos 120 a 140 km/h com tranquilidade. A moto tem muito torque, o que permitia facilidade nas ultrapassagens, com o velocímetro saltando dos 120 para os 150 km/h com rapidez e segurança. E, por falar em segurança, o conjunto de freios equipados com sistema ABS são extremamente eficientes. A moto estava equipada com um parabrisa alto que, somado aos protetores de punho e à carenagem que protege razoavelmente as pernas, permitiu uma viagem tranquila e confortável. E, para minha surpresa, fez média de 22,4 km/l, acima do que eu esperava.

Enfim, encostei na garagem de casa às oito horas da noite de sábado. Respirei fundo e agradeci aos céus pela boa sorte e pelos amigos. Desci da moto, desamarrei a mochila e dei uma boa olhada para aquela bela máquina negra. Deu um pouco de trabalho, é verdade, mas valeu a pena.

Meu amigo Rudy e família, que me acolheram com tanto carinho: obrigado!

De ônibus para Rio do Sul

A moto na concessionária: perfeita.

Campos Novos: cidade simpática e tranquila.

A praça de Campos Novos

Termas de Piratuba: águas termais para relaxar.

Um pouco de estrada de chão.

A ponte rodoferroviária de Marcelino Ramos.

As belezas da estrada...

Finalmente em casa.

 

Foi espetacular… até o futebol

Foi um show de bola. Toda a expectativa criada em torno de um estilo de jogo envolvente, intimidador e invencível da seleção da Espanha se desfez em menos de um minuto.

Poderia ter sido apenas um gol de sorte. Afinal, a sorte também esteve ao lado do Brasil durante os noventa minutos. A maioria das bolas espirradas caiam em pés brasileiros. Em lances de bate e rebate, o resultado era quase sempre um domínio de bola canarinho. E o primeiro gol não foi diferente. Uma bola alçada na área por Hulk raspou em Fred, bateu na canela de Neymar, escorregou na mão de um espanhol e ficou parada, dentro da pequena área, a um metro do goleiro Casillas. Mas a vinte centímetros dessa bola espirrada estava o pé de Fred que, deitado de costas, desequilibrado, fez o que o verdadeiro centroavante faz sempre que tem a mínima chance: gol.

Porém nunca foi tão válido o ditado que diz que “a sorte está do lado de quem trabalha”. O Brasil trabalhou, e muito. Marcou do primeiro ao último minuto, fez pressão, ocupou espaços e, quando de posse da bola, foi rápido, objetivo e com uma qualidade de passes impressionante. Nunca vi o Brasil trocar passes com tanto acerto. Sim, foi um dia onde tudo deu certo, onde a sorte esteve ao lado do Brasil. Mas onde ele fez por merecer isso com sua atitude, seu emprenho e a qualidade de seu futebol.

Mas a melhor notícia do domingo não foi a vitória, nem o título da Copa das Confederações, nem mesmo o placar arrasador para cima da poderosa Espanha, justo e merecido, um placar que poderia até ter sido maior. A melhor notícia é que o Brasil está com uma personalidade: a personalidade de Felipão. Apenas um craque (Neymar) e mais dez operários. Dez trabalhadores que suam sangue, se doam os noventa minutos como se dessem a própria vida. Um repórter perguntou para Felipão se o desempenho de Oscar não estava abaixo do esperado. Felipão deu uma resposta digna de Felipão: “está abaixo para vocês, repórteres. Para mim, ele está fazendo o necessário”.

Felipão não convocou nem Ronaldinho, nem Kaká. Foi um escândalo! Foi questionado, criticado e, nos bastidores, pressionado por dirigentes, empresários, patrocinadores, empreiteiros e todos os que tem no futebol mais interesse financeiro do que esportivo. Mas já tinha sido assim na Copa do Mundo de 2002, quando barrou o ídolo brasileiro incontestável, Romário. Assim é uma equipe de Felipão: um grupo coeso onde o objetivo de todos está acima dos objetivos e das vaidades pessoais.

E espero que continue sendo assim, não pelo bem do futebol que, afinal, é apenas um esporte e não deve ter importância maior do que esta na vida das pessoas. Mas para o bem de um país que precisa resgatar os valores de dignidade, honestidade e trabalho, tão maltratados por homens públicos e empresários corruptos, políticos canalhas e eleitores irresponsáveis.

 

É carnaval…

Acordando nesta terça-feira mormacenta de carnaval no silêncio do meu apartamento em Porto Alegre, bem longe da praia e da insanidade que permeia o litoral com a invasão dos bárbaros adoradores ou admiradores das folias do Rei Momo, cevo um mate e reflito involuntariamente sobre nossa cultura contemporânea.

Vi dias atrás, inadvertidamente, o vencedor de um concurso da Rede Globo que pretendia eleger a melhor marchinha para a carnaval 2013. Ganhou uma que enaltecia as habilidades manuais de um tal de Vovô ampulheteiro. Mesmo que a analogia seja menos direta do que outras letras muito mais grotescas que andam por aí, ainda assim está longe de ser de bom gosto.

Lembrei então dos últimos sucessos nacionais que invadiram a TV, o rádio, as casas de espetáculos, as boates e a sala de estar de milhões de residências do Brasil (e de todas as classes sociais, diga-se de passagem). E mais: músicas que não só transformaram em celebridades nacionais seus autores como ainda transferiram milhões e milhões de reais das conta-correntes de brasileiros (direta ou indiretamente) para os bolsos desses novos heróis nacionais. Apenas para lembrar as mais recentes:

“Hoje é sexta / lá no meu apê / vai ter bundalelê”; ou “Segure o tchan / amarre o tchan / segure o tchan tchan tchan”, depois aperfeiçoada para uma letra mais complexa: “Eu quero tchu / eu quero tcha / Eu quero tchu tcha tcha tchu tchu tcha”, até a chegada de nosso gaudério desvirtuado que conquistou o Brasil e o mundo com a bela e lírica composição: “Ai se eu te pego, ai se eu te pego, delícia, delícia”.

Enquanto acolhem essas pérolas da cultura brasileira em seus lares, políticos, intelectuais e brasileiros em geral se mostram atônitos com o nível cada vez mais baixo de nossa educação e com a violência crescente.

“Tudo o que o homem semear, isso também colherá” (Gálatas 6:7).

 

Lançamento livro “Humano, benditamente humano”

E eis que, após um longo período de gestação, veio ao mundo meu novo livro. Foram mais de três anos de pesquisa, produção literária e revisões. Após a definição da ideia principal e a criação dos personagens centrais, um longo período foi investido na concepção da trama. O livro aborda vários temas que transitam pela obra em diversos níveis, desde o texto explícito até as várias camadas de subtexto que discutem ideias e valores.

A linha mestra da obra procura expor as circunstâncias que fazem uma sociedade perder seus valores de civilidade e mergulhar no crime e na barbárie (complementando a trama do livro “Deus está morto?”), a exemplo do que aconteceu em determinados períodos históricos (como a queda do Império Romano ou o desenvolvimento das favelas cariocas). Mas não se restringe a isso, como a própria história não se restringiu a degradação de civilizações que foram grandiosas.

Procurando responder às questões: “Até quando a opressão e a crueldade podem ser suportadas pelo povo?” e “Como inverter a curva suicida de violência e barbárie e retomar princípios e valores civilizados?”, o livro se debruça sobre princípios e características inerentes à natureza humana. E questiona se realmente as pessoas preferem uma sociedade civilizada à violência e o caos.

Um texto com ritmo envolvente de triller policial e psicológico mas, ao mesmo tempo, profundo nas questões que investiga e polemiza.

Foi uma alegria enorme poder compartilhar essa realização com todos os amigos que se fizeram presentes no lançamento. Além disto, dia 11/11 também foi data do meu aniversário e muitos foram brindar os dois eventos após o lançamento.

A todos, meu profundo carinho e agradecimento.

Uma capa cheia de significados

Autógrafos na 58a Feira do Livro de Porto Alegre

Meu pai, com 83 anos, prestigiando o lançamento

Uma grande alegria

Após o lançamento, um brinde com familiares e amigos

 

Contribuindo com a melhoria da educação

Trabalhar com educação é uma das atividades mais significativas entre as que tenho me dedicado. Nos projetos “Autor na sala de aula”, “Comunidade Leitora” e “Autor presente”, tenho a oportunidade de trabalhar com literatura nas escolas, incentivando o hábito da leitura e discutindo com jovens e professores aspectos ligados à educação, cidadania e valores morais. Algo realmente gratificante. Neste mês, estive em Augusto Pestana e na Escola Prof Aurora Peixoto de Azevedo, de Porto Alegre.

Aos professores, pais e alunos que participaram dos eventos, meu muito obrigado. Espero que todos tenham aprendido tanto quanto eu!

Participação na XIII Feira do Livro de Augusto Pestana, dias 31/10 e 1/11/2012.

Palestra para professores, pais e alunos, com meu editor, Walmor Santos.

Autor convidado em evento literário na escola Prof Aurora Peixoto de Azevedo, dia 06/11/2012, em Porto Alegre.

Atividade pedagógica "Entrevista com o escritor", sobre o livro "Deus está morto?" e os temas tratados na obra, como mudança atual nos valores morais, paternidade consciente, aumento do consumo de drogas, etc.

É emocionante ver esses projetos levarem livros até as mãos de jovens que, de outra forma, jamais teriam contato com boa literatura.

 

Lançamento na Feira do Livro – Fritz & Frida

É hoje o lançamento do livro “Mãos à obra”, que conta a trajetória do empresário Lauro Carlos Fröhlich e da empresa Fröhlich S.A., dona da marca Fritz & Frida, uma das mais conhecidas do Rio Grande do Sul, cujo texto tive o privilégio de produzir.

Foram mais de dois anos de trabalho entre entrevistas, pesquisa, produção de texto e revisões. Mas foi um trabalho gratificante. Sinto enorme prazer não apenas em acompanhar, mas também em poder relatar a história de homens que fizeram a diferença em nossa sociedade através de seu exemplo de trabalho, dedicação, criatividade e grandes conquistas.

Mas a história do Lauro Fröhlich não é apenas o relato de uma trajetória de sucesso empresarial, cheia de desafios e superação. É também a história de um homem com senso de humor, espírito aventureiro e generosidade. De suas travessuras de menino em Ivoti aos passeios em sua lambreta, das longas e penosas jornadas de caminhão transportando lenha às viagens internacionais buscando novas tecnologias em países do Primeiro Mundo, o livro “Mãos à obra” é um relato divertido e emocionante, ao mesmo tempo em que é denso e repleto de lições de vida.

Uma boa leitura para quem valoriza a trajetória de líderes de sucesso, para quem já é ou pretende ser empresário, para quem reconhece as virtudes sociais e econômicas do empreendedorismo ou simplesmente para quem aprecia uma boa história.

 

Cretinice explícita

O futebol brasileiro atingiu um nível de cretinice deplorável. No jogo de hoje entre Inter e Palmeiras, o atacante Barcos, do Palmeiras, pulou num escanteio e deu um soco na bola para dentro do gol. Encoberto no lance, o juiz validou o gol mas voltou atrás, alertado por um dos assistentes da irregularidade. A partir daí, ao invés de cumprimentar o juiz pela atitude correta e pedir desculpas pela tentativa desonesta que não funcionou, os jogadores do Palmeiras partiram para um festival violento de reclamações, ofensas, xingamentos e palavrões, na maior cara de pau.

Uma demonstração não apenas de ausência de espírito esportivo, mas de falta de caráter. A partir de agora, passo a torcer com afinco para que o Palmeiras não apenas seja rebaixado, mas que arda por muitos anos no fogo do inferno da segunda divisão.

 

Grande sertão, veredas – uma crítica (quase) impossível

Tenho uma queda irresistível para a iconoclastia. Enalteço-me argumentando que, em geral, a idolatria é inversamente proporcional à qualidade. E não me acanho em utilizar o mote algo farsesco de um homem polêmico para apoiar minha tese: “toda unanimidade é burra”, dizia Nelson Rodrigues com um esgar irônico. Sim, caros leitores mais atilados, percebo seus leves erguer de sobrancelhas: também há a possibilidade implícita da inveja. Não podendo alcançar os bafejados pela fama, pise seus calcanhares. Mas certamente não é o caso, claro.

Nessa linha, desenvolvi uma relação conflituosa com a literatura experimentalista. Reformulo: tenho uma relação conflituosa com a literatura experimentalista que vira best seller. E isso porque ambas as realidades são tão contraditórias que só o que as explica é algo exterior às questões literárias. Experimentalismo é, por definição, algo que foge aos padrões vigentes, algo que rompe as regras em voga (ou seja, contraria aquilo que é considerado pela maioria como “certo” ou “bom”). Portanto, é improvável que algo que contrarie a maioria vire best seller, ou seja, agrade a maioria. Multidões acorrendo às livrarias para comprar exemplares de Finnegans Wake, de James Joyce, seria algo parecido com intelectuais e eruditos tecendo rasgados elogios às qualidades literárias de O veneno do escorpião, de Bruna Surfistinha.

Trouxe à discussão esse assunto porque um amigo escritor, bem nascido (sua data de aniversário é fabulosa) e ótimo sujeito resolveu inaugurar um festival de exaltação no facebook a uma das obras que, no meu ponto de vista, se encaixam perfeitamente nessa classificação de livros cuja fama não faz jus aos seus atributos. Estou falando de Grande Sertão, veredas, de Guimarães Rosa.

Desde meu primeiro contato com esse livro senti desconforto com sua sintaxe e uma espécie  de repulsa pelo seu desprezo com algo que, para mim, é a maior virtude numa narrativa literária: a fluidez da história. Quando abro um romance quero, em essência, ler uma boa história. A estrutura do texto pode ser mais direta, mais coloquial (como O velho e o mar, de Hemingway, por exemplo), ou mais rebuscada, com construções gramaticais elegantes e complexas (como O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde). No entanto, na base do texto, há uma história a lhe dar estrutura e sentido, e há uma fluidez que permite compreender essa história, com maior ou menor complexidade estética.

Mas o que me incomodou em Grande sertão, veredas não foi apenas a história truncada, sufocada, ferida de morte sob uma avalanche sintática e morfológica que, sob o pretexto de reproduzir a linguagem do sertanejo, criou um pântano sob o qual naufragou qualquer possibilidade de compreensão da história em uma leitura normal.  E nem mesmo o fato de as opiniões da intelectualidade letrada serem totalmente favoráveis à obra (ao ponto da idolatria), já que a academia, assim como os sacerdotes dos tempos em que só haviam escrituras sagradas em latim, vive de seu status de intérprete da verdade. O que mais me espantou foi que, mesmo entre leitores comuns, havia uma exaltação positiva do livro, significando que só poderia haver um sujeito equivocado nesta divergência: eu, claro.

Mas, como costumo dar ouvidos às minhas opiniões (mesmo as mais estapafúrdias), resolvi investigar mais a fundo os motivos do meu desconforto. E meu entusiasmo aumentou quando conheci vários alunos do curso de Letras da PUC-RS que, confrontados com esse livro, tiveram a coragem de encher o peito e disparar: “Não gostei”. Para não ficar restrito ao “achismo” (tecnicamente chamado pelos estudiosos de “crítica impressionista”),  mergulhei em algumas teorias literárias para tentar traduzir em conceitos os motivos que fizeram com que eu não gostasse de Grande sertão, veredas (e nem de Macunaíma, de Mário de Andrade, Finnegans Wake e Ulysses, de Joyce, O evangelho segundo Jesus Cristo, de Saramago, e outras obras do gênero). Está aqui: http://www.kleberboelter.com/wp-content/uploads/2010/01/Ensaio-Grande-sert%C3%A3o-veredas-uma-cr%C3%ADtica-quase-imposs%C3%ADvel.pdf

Não espero demover os fãs de Grande sertão, veredas de sua idolatria (até porque a paixão alimenta-se de uma lógica toda própria). Se eu conseguir apenas diminuir a sensação de ignorância daqueles que, como eu, tentaram ler o livro e não gostaram, já me darei por satisfeito.

 

Não deixe seus sonhos enferrujarem

Blog também é utilidade pública.

Todos conhecem aquela máxima popular que diz: “vinho, quanto mais velho melhor”. Certo?

Errado.  Os vinhos são “coisas vivas”. Mesmo após engarrafados, eles continuam modificando sua estrutura através da interação do oxigênio com seus alcoóis e ácidos (isso é bem explicado aqui http://revistaadega.uol.com.br/Edicoes/17/artigo44669-1.asp). Mas a maioria dos vinhos encontrados em lojas e supermercados é produzida para consumo imediato. Eles já estão “prontos” quando vão para a garrafa. São poucos os vinhos que podem ser armazenados por alguns anos e que, com o tempo, aprimoram seu aroma e sabor. São os chamados “vinhos de guarda”, em geral tintos encorpados e mais complexos que continuam evoluindo positivamente mesmo após engarrafados.

Então, um vinho caro e de boa qualidade pode ser guardado por muitos anos que vai ficando cada vez melhor. Certo?

Errado. Há um fator fundamental nesse processo de armazenamento: o local onde você irá guardar essa preciosa garrafa. Não é por acaso que as adegas são frias, escuras e silenciosas. Se você guardar seu vinho famoso e caro na cozinha, ao lado do fogão, ou naquela prateleira que, no inverno, chega a zero grau e, no verão, arde a trinta e cinco, é quase certo: ele vai estragar e não melhorar.

Isso já tinha acontecido comigo com alguns Cabernet Sauvignon que eu havia comprado diretamente na Vinícola Valduga, em uma das primeiras vezes em que visitei o Vale dos Vinhedos. Belas garrafas, rústicas e de rótulo dourado, dos tempos em que a Valduga ainda não era famosa, mas já fazia vinhos excelentes. Guardei por uns dez anos e, quando abri as garrafas, cheio de expectativas, tinha apenas um vinagre com cor de ferrugem e cheiro de mofo.

E fiz de novo agora, ao guardar uma garrafa de um belo vinho, um francês Chateauneuf Du Pape, safra 2006, que eu havia ganho de presente.

Portanto, aproveite a vida enquanto você tem saúde e entusiasmo. Tire aquele seu projeto tão sonhado da prateleira e trate de fazê-lo acontecer. O tempo acaba vencendo até mesmo os bons vinhos.

O vinho desperdiçado...

 

Gramado e amigos

Gramado é uma das mais belas cidades brasileiras, sem sombra de dúvida. O que a natureza fez deslumbrante, como o Vale do Quilombo e toda a vegetação que ornamenta a serra gaúcha, homens e mulheres de raízes civilizadas tornaram ainda mais belo com muito trabalho, capricho e cuidado.

Agora junte essa beleza natural, a arquitetura e o paisagismo de origem europeia e uma turma de amigos do mais alto gabarito e está feito um final de semana fantástico.

Foi com essa reunião de superlativos que comemoramos, no último sábado, os aniversários dos leoninos Nenê, Sérgio e Mabilde, num clima de amizade, afeto e emoções. Conforme os anos passam e as experiências se acumulam, reconhecemos cada vez com mais clareza as coisas que realmente importam em nossa vidas.

A todos os amigos com os quais minha amada e eu compartilhamos momentos tão especiais, meu mais profundo agradecimento.

Gramado: arquitetura e paisagem deslumbrantes

Confraternização esportiva antes da festa

Beleza, alegria e companheirismo em mulheres maravilhosas

Um brinde à amizade, um bem de valor inestimável

Gramado em clima europeu